Qualquer relato tem consequências, e suscitar a hilaridade ou o desprezo no seu destinatário não é a mais grave. Contamos para compreender e para que nos compreendam, contamos por motivos diferentes, mas persegue-nos sempre um propósito, quanto mais não seja o de descarregar o peso. E é aí, sempre na finalidade oculta, onde reside o sentido de cada relato. As palavras e as diferentes peças discursivas que o formam, não têm valor separadamente. A prova disso é que inclusive no relato mais simples é possível encontrar duas verdades que se contradizem ou que às vezes para expressar uma verdade é necessário recorrer à mentira. Nisso não se diferenciam da vida, por isso de pouco servem as palavras se os actos as não corroboram e por isso frequentemente não há só duas verdades simultâneas que contradigam, mas sim uma legião. Nunca mentimos, portanto. Excepto no sentido de que sempre que uma dessas verdades em luta se impõe, nega implicitamente a existência das outras. O nosso problema é termos demasiadas ideias absconsas.
Grande arrazoado para dizer entre outras coisas que não mentimos. Mas é que mentimos mesmo. Uns mais que outros, mas mentimos.
ResponderEliminarbea, mentir nem faz mal. Mal faz faz é termos o esconso cheio.
EliminarConcordo bea
ResponderEliminarMentimos.
Talvez quando o que dizemos não está sintonizado com o que sabemos e/ou sentimos.
Fora isso...
Não há verdades absolutas. Nem expressar uma contradição poder ser considerado mentira. Somos “sim” e “não” ao mesmo tempo. Para nós a linguagem binária do 0 e 1 não funciona. Nós podemos ser 0 e 1 simultaneamente!
Pronto!
Somos sim e não ao mesmo tempo. Somos simultaneamente os arrendatário e os senhorios da caverna.
EliminarIsso!
EliminarOh, ainda bem que me lembraram:). É que nem me lembraria que a contradição que é afinal parte do ser de cada um e sempre em simultâneo. De algum lado teria de vir a complexidade que se regista.
EliminarA mentira tem perna curta, diz o ditado. E como somos seres imperfeitos em algum momento a mentira aparece. E omissão, também não será um acto de mentir. Impontual, isto dava pano para mangas ou melhor para máscaras[risos]
ResponderEliminarBom entardecer.
"E como somos seres imperfeitos em algum momento a mentira aparece."
EliminarEssa frase é a residência oficial da finalidade oculta. :)
E somos também os outros bichos que habitam a caverna, mesmo os que não se vêem, e somos a própria caverna que alberga o senhorio e o arrendatário e os bichos? E somos o espelho que nos reflecte e que nos mostra e mostra aos outros uma imagem que talvez seja a nossa ou que pode ser a da outra imagem que ali se reflecte naquele momento? Não será que não são muitas as ideias que são obscuras, mas, antes, os caminhos que, por vezes, nos transportam por labirintos demasiado atraentes?
ResponderEliminarPergunto.
Somos. Somos. O labirinto tem paredes transparentes. Mário de Sá Carneiro definia isso como "eu só o labirinto". A verdade é que antes de qualquer pensamento não somos nada. Ninguém nasce programado. Vamo-nos moldando a partir das nossas ideias. É claro que toda essa liberdade de pensar resulta em muita confusão. Essa confusão é ainda maior quando percebemos que as nossas palavras podem ser um espelho para os outros.
EliminarOu seja apenas somos ou nos sentimos livres quando os outros dão um aval positivo sobre nossa essência. Mas não quero corroborar da ideia (longe de mim o existencialismo engajado de Sartre) de que o inferno somos nós. Ou os outros.
Obrigado por ter vindo, Estimada UJM.
Aceita um abraço?
As piores mentiras e mais difíceis de descortinar são as que contamos a nós próprios pois as que contamos aos outros são muito mais claras para nós, assim como a intenção com que o fazemos (proteger-nos, proteger os outros, etc).
ResponderEliminar~CC~
(E obrigada pelo abraço lá no blogue da Ana).
Sim, CC. É como produzir o próprio veneno.
EliminarParabéns. Muitas felicidades.