Estação ferroviária. 06:04 da madrugada. O comboio rápido com destino à grande capital acaba de acostar no cais de embarque. Avançam uns de cada vez. Devagar. Entorpecidos. No olhar de cada mulher, de cada homem germina oculto e calado um tempo de espera. Parece que lêem nos olhos uns dos outros, os seus sonhos e as suas aflições. O silêncio, ambíguo, retém-se à sua volta, estranho e solidário. Parece que sabem o fim uns dos outros, as pequenas esperanças e os receios que os calam, de a vida não ser tão generosa como desejavam. Ficam ali de olhos fixos e muito abertos, imóveis e serenos, como se esperassem dai a momentos o instante da morte, uma morte violenta que os liberte definitivamente de toda aquela mesquinhez, da miséria prolongada que os vai prendendo irremediavelmente à vida.
Vão a jogo. A viagem cumprir-se-à em três horas e trinta minutos. Não há atraso previsto. Na grande capital espera-os uma temperatura do ar de trinta graus centígrados. O inferno. Eles e os outros.
Para muitos, o Inferno é o frio. Que o digam os antigos,incluindo os que viveram as pequenas, e as grandes, glaciações ...
ResponderEliminarParece-me que, por agora, mesmo na hipótese do degelo global, o maior problema ainda seja o aquecimento temporário (tendo em conta o aumento chocante da electricidade). Talvez tenham feito contas: mais por menos. Mas é possível que futuros Invernos venham a ser só um dia (e muito desejado).
EliminarO jogo da realidade é que é realmente perigoso, se bem o entendo...
ResponderEliminar(embora não tenha visto essa coisa de que toda a gente fala...e vê).
~CC~