quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Ano novo

Parece claro que o passado interfere sempre na vida das pessoas, quase sempre para o mal, mas não sem a sua participação directa. Tomada por uma miríade de pensamentos nefastos, ao ter de lidar com condições desfavoráveis desde tenra idade, qualquer mente se mostra receptiva a formas desconhecidas de apreender o mundo. 
No tempo em que ainda era solteiro, Frederico ocupava os dias com longas meditações filosóficas que o mergulhavam numa doce angustia e lhe davam a sensação de pairar sobre a pobre gente que o circundava. Prisioneiro das questiúnculas tacanhas e mesquinhas que lhe absorviam a vida do dia-a-dia, não havia manhã em que não o assaltassem as mesmas interrogações: "de onde venho eu? Que faço da minha existência? Porque estou vivo? Qual vai ser o meu destino?
Esta manhã as roupas de ambos enrodilharam-se em desordem aos pés da cama e os dois corpos pareciam repousar depois de um duro combate. Amélia tinha ainda na mão o sexo vigoroso e luzidio de Frederico, cujo braço repousava numa prega do peito mole e opulento da amante. Estampou-se-lhes nos rostos aquele ar apaziguado que as crianças exibem durante o sono.

7 comentários:

  1. 'luzidio' fez-me rir, nunca me tinha ocorrido tal adjectivo.

    Votos de que 2022 seja apaziguador.

    ResponderEliminar
  2. Concordo com a Tétisq :)*, mas creio que já tinha aqui dito que a tua líbido está ao rubro, so-to-escrevendo-em-erótico-say :)

    ____________

    Quanto à parte do apaziguamento, hum, prefiro a lucidez,o discernimento. O último semestre de 2021 foi o caos quase absoluto, para mim: o fim de uma relação, ficar sem a carta de condução durante 4 meses, um isolamento profiláctico de 14 dias, uma infecção COVID-19 (creio que foi a variante Ómicron), absolutamente assintomática, a saúde do meu mano mais maior grande, as quezílias adolescentes graves no desemprego dos dias,................

    _____________

    Já brinco com a questão de nos mantermos em atitude positiva :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Votos de bom ano, Alexandra.

      Existe uma forma poética de se ser libidinoso? De se parecer menos pervertido? :)

      Eliminar
  3. Eu não li naquilo que escreveste nada no contexto da perversão, antes pelo contrário:)

    E, sim, é claro que exite uma forma poética de se ser libidinos@, várias, aliás, não só na escrita, mas também na leitura...

    E, by the way, em imensas construções, não só na escrita, como sei que saberás: sans doute! E, acrescento: não só no reino do sapiens sapiens.

    ResponderEliminar
  4. P.S. - Esqueci-me de referir o que me aconteceu no primeiro semestre de 2021: uma ameaça de morte, logo a mim, que tanto desejei uma carreira de cineasta, guionismo incluído! Até com esta situação lidei, apaziguei quem me ama, pois que não temi: apaziguiei, sim: duas queixas na polícia, sabendo que o meu namorado de então criou um grupo de vigilância e protecção, mas esta parte escapou ao meu entendimento, pois incluiu-me no grupo de WhatsApp e depois excluiu-me, cousa bizarra :\=

    A ameaça mantém-se.
    Os paus de marmeleiro também. Os portachaves também: furam olhos.

    You Ok?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. I'm ok. I"m fine.
      Enquanto o pau (de marmeleiro) vai volta. :)

      Um abraço.

      Eliminar