quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Palomar

Um homem está parado no areal. O Senhor Impontual caminha, lesto, junto à água lado a lado com o sol poente. Uma mulher está ao cimo, de pé, olhando a praia. O mar está baixo, calmo, a estação indefinida, o tempo lento. A mulher está em cima de um estrado de madeira, ao longo da praia. Veste roupas largas e sombrias. Tem um rosto distinto. Os seus olhos são grandes. Não se mexe: olha o mar, a praia, as poças, as superfícies isoladas de água morta. Depois caminha, afasta-se e volta, torna a partir, a voltar, num caminhar longo, monótono. O Senhor Impontual que já estava a perder-se no horizonte dourado, trava, inverte a marcha, e retorna ao local de partida. O triângulo fecha-se com a mulher de olhos cerrados, sentada contra o muro que separa a praia do fim da cidade. O mar e o céu ocupam o espaço. Ao longe o mar está já oxidado pela luz obscura. E o céu também. O homem, que esteve imóvel durante todo este longo hiato de tempo, inicia a marcha de saída do areal. O triangulo oscila. Desfaz-se. São agora duas pessoas sob o intenso crepúsculo. O dia morre. 

3 comentários:

  1. Despojos de tudo num nada, almejando que a noite lhe traga o aconchego de doces memórias.
    Bom domingo, Impontual

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  2. Sr. Impontual, não interpelou a a jovem porquê? Está a perder qualidades 😒

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