Que estranho sentimento esse o de ser sportinguista. Não?
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Ciência viva
Já vão aparecendo uns biólogos, uns químicos, uns físicos capazes de imaginar, inventar medicamentos, ínfimos objectos que vão dentro dos corpos limpar as artérias, ups! acabou-se o colesterol, disparar misseis sobre vírus, ou até mesmo escarafunchar nos neurónios para mudar as conexões e limpar o canal dos instintos interditos.
Não aparece é ninguém capaz de criar uma injecção que ponha termo à insipidez da carne, à distorção do carácter, que apazigúe os corpos e torne as almas mais ligeiras. Que acabe com as feridas da língua, a língua inválida, a alienada e a insone. Que ponha termo a esta inata catarse aristotélica da simulação, da dissimulação, do fingimento, da teatralidade do jogo retardado da imitação e do renascimento, da mascara e do mascarado, do falso e do falsificado. Que ponha fim e esta patologia mal-cheirosa, a estas células cancerosas que matam a cada dia que passa o organismo social.
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
Rubescência
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Apanágio
Tenho o máximo respeito e admiração pelo Mário Centeno. Eu também já fui Ministro das Finanças da minha casa e sei o quão difícil aquilo é.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Cada um de nós é o amor da vida de alguém
Mas... quem é afinal o artífice desse andaime periclitante? Quem montou as travessas e os parafusos, as polias e as pranchas sobre as quais dançamos, como cegos às apalpadelas, persuadidos de que somos livres e conquistadores?
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Revolução do desejo
Frank Guiller
O amor é o amor — e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
__Alexandre O’Neill, in ‘Abandono Vigiado’
__Alexandre O’Neill, in ‘Abandono Vigiado’
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
Ainda Cioran
O bom blogger? concentra em si todas as chances de desaparecer e desaparecerá mais cedo ou mais tarde, mas, por outro lado, tem razão em prolongar a sua tragicomédia, nem que seja por distracção ou por vício. Até lá cultiva o mistério, locução de que se serve para endrominar os outros, para fazer-lhes crer que é imperscrutável. Graças à melancolia - esse alpinismo dos preguiçosos - lá vai escalando, sentado na sua poltrona de orelhas, todos os cúmes e sonhando no alto de todos os precipícios. Bailado encenado nas bordas do abismo.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2018
Cioran
O bom blogger deve possuir o sentido do assassinato; em tempo útil, quem ainda sabe matar os seus personagens?
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Largas noites
As circunstâncias que levaram àquela história de amor tão intensa quanto fulgurante desenrolaram-se sob o signo da estranheza e da fatalidade. Envergava, atendendo à circunstância, um fato azul escuro e uma camisa branca com dois botões abertos. Depois de me sentar, uma rapariga ficou varias vezes a olhar para mim. Relances furtivos sem mensagem particular. Pensei, trata-se da atracção dos contrários, eu branco ela morena, e sorri. A moça respondeu ao meu sorriso algum tempo depois e pude ver o que era uma boca que se entreabria para se dar, informar que não havia, nesse instante, senão um destinatário a quem era oferecido o elogio e a prenda. Naquele momento da ronda dos astros, duas únicas pessoas em todo o mundo podiam estar ali à espera de um encontro, a rapariga do sorriso e eu. Vi-me embrenhado no interior de um buraco negro do espaço, pensei com todas as minhas forças, as minhas energias, todas as luzes do céu me atraíam para o mais fundo, para o centro do meu corpo, onde a última partícula tremia por uma mulher que não conhecia. Sem uma borda de mundo que me servisse de referência, sentia-me desvalido de linguagem e de lei, um homem do espaço sozinho e apaixonado por um meteoro que o deslumbrava. O sagrado estava ali, ao alcance do corpo, bastava a minha mão tocar aquela mulher e calar-me.
Achei-me prisioneiro, permissor de um espaço e de um tempo onde não se ouviam senão os ofegos, o roçar de peles e marulhadas de saliva. As palavras e os corpos de cada um, contaram ao outro as histórias das suas vidas, desde o primeiro dia até àquela noite, para que ambos soubessem os labirintos e os porquês dos meandros da existência que estreitava nos seus braços. Regressados de manhã às intersecções de latitude e longitude de um tempo ordinário, tivemos de interromper a embriaguez, a overdose desejante que acabavam dos nos unir, para nos desfazermos um do outro. Extrair-nos, separar-nos, cortar a unidade que algumas estrelas tinham visto nascer. Fadiga e manhãzinha, o tempo dos homens ditou novamente o ordenamento dos corpos na cidade.
Eu disse adeus, ela ficou a ouvir Lionel Richie em "All night long".
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
Posídon
segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
Supernany
Gostava de saber explicar-te este mundo. Um mundo onde não existe privacidade, onde a imaginação é um comportamento anti-social e as pessoas que compõem essa sociedade estão sempre em bicos de pés a olhar através da janela da tua alma a tentar descobrir os teus pensamentos mais íntimos. Mas gostava, também, de contar-te a maior verdade que daí se depreende: o tecido deste mundo é uma ilusão, um cenário mal pintado de uma peça de teatro. Passa para trás dessa cortina e um mundo totalmente diferente aguarda-te. Vá, não te inibas. Faz-te a ele.
sábado, 13 de janeiro de 2018
Esplanada de Inverno
E então, em vez de reagir à sua declaração de guerra com um acto de violência, que poria, sem dúvida, fim à dela, em vez de utilizar as mesmas armas que ela para abater o inimigo que o tomou como alvo, ele redobra de ternura, começa a conversar, tenta a diversão. Em vez de desembainhar a espada e gritar "em guarda", recusa o duelo, despede as testemunhas, parlamenta e estende-lhe a mão.
Ela, nunca imaginou que se pudesse seduzir uma mulher ofertando-lhe a mão.
Time`s Up!
Ela, nunca imaginou que se pudesse seduzir uma mulher ofertando-lhe a mão.
Time`s Up!
quinta-feira, 11 de janeiro de 2018
Noite
Deixo-me tomar pela noite. Tomar, aconchegar, estreitar. A noite não descansa, arqueja com todos os seus suspiros e oferece-me um concerto amortecido. Quem arrola tantos sons como ela? O jazz pulsa, desventra a cortina das percepções. Um saxofone soprano aparta as abas da razão a fim de proferir um grito tributado às estrelas. Abre-se uma janela, sobredose de emoções, uma vida que se questiona: como, onde, até quando? Êxtase e retracção. As interrogações condensam em si as lassidões reaparecidas ao nascer do sol. As respostas acham-se nas ruas da escuridão, matriz onde se extasiam os imaginários, pois é aí que as ficções tomam corpos e almas, no próprio instante. Elas assemelham-se ao amanhã, depois de amanhã, as avenidas, as pedras, plenas figuras do destino. Sabemos que iremos mover-nos ali e não noutro sitio, no interior de cenários efémeros, momentâneos, transitórios. Às vezes mais vale dormir.
terça-feira, 9 de janeiro de 2018
Vestidos pretos
Nada me desconcerta mais que o rosto em desalinho de uma mulher bonita.
O que quero dizer com isso?
Suponho que queira dizer que gosto de mulheres bonitas quando, mesmo erguendo barreiras de encanto, abrindo leques multicolores que cegam os intrusos: mini-saias, madeixas louras, cintura fina, olhos pintados, rosto estucado, andar bamboleante, elas não são devoradas pela beleza. Deixando à minha imaginação os seus dédalos interiores.
O que quero dizer com isso?
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
Há cidades cor de pérola onde as mulheres...
a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.
__Herberto Helder - «Lugar», Poesia Toda
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
Monólogos da vagina
A descer a pé em direcção ao metropolitano, Amélia trauteia, apetece-lhe dançar debaixo da chuva miúda, mover o corpo no meio da multidão, e que olhares furtivos a descubram, que homens discretos digam com os seus botões: olha vai ali uma mulher a cortejar o mundo. Sem a luz do sol, Amélia pensa nas estrelas, estou a caminho de uma cidade que amo, diz ela consigo, e nesta cidade há um homem com quem farei amor hoje à noite, que pousará as mãos sobre a minha pele, apartará as minhas pernas, tomará os meus seios como uma oferenda das mulheres aos que as desejam, e o seu sexo erguer-se-à quando souber que sou dele.
Amélia ao pensar nos homens vê o deserto e a sede, sempre que eles não podem esperar mais tempo pela humidade de uma mulher, pela água bem-aventurada que escorre entre as pernas delas quando eles embebem o corpo e a boca na unção extrema, os santos óleos dos vivos.
O que importa é estar vivo, diz Amélia de baixo para cima.
O que importa é estar vivo, diz Amélia de baixo para cima.
sábado, 30 de dezembro de 2017
Palomar
O Senhor Impontual está sentado diante do mundo, por vezes sente vergonha. Não há nada brilhante, enfim... Os balanços são patéticos, remorsos é o que não falta, contradições publicas e arrependimentos. Viver deveria significar querer melhor, mais alto, maior e o Senhor Impontual só vê pessoas que não desejam senão um prémio de lotaria, fazerem fila um dia inteiro à porta da Ritinha Nails, aflitos, que ainda tem de ir à Boutique da Amélia levantar o outfit para a grande noite que será devidamente retratada e divulgada ao mundo dos alegres com o seu telefone plus, dourado. Tanto tempo, tanto dinheiro por tão pouca alegria! Annus Mirabilis!
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Hipotipose
O itinerante interrompe momentaneamente o seu périplo por galáxias superiores, a fim de partilhar com os prezados terráqueos dois farrapos da sua viagem de laboração imagética e dedicá-los à blogger que mais amou ao longo do ano que agora finda.
Sim, àquela que atira palavras de dentro para fora e de fora para dentro com uma simplicidade tal que por vezes não se sabe se são sanguíneas, se caíram do azul do céu, se as trouxe o vento norte ou se se desprenderam na junta que une o corpo à alma.
Para o ano logo se há-de ver.
Para o ano logo se há-de ver.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Cú de Judas
Derivado da generosidade do presépio, o vivente embarca agora mesmo numa viagem que se prevê da mais elevada densidade arcaica.
O residente, volta ao contingente logo que a meteorologia assim o permita.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
Dois cartões de Natal. Um com dedicatória, outro para quem o quiser apanhar
(para a ANOUK com um abraço)
______________________________________
Minha cabeça estremece com todo o esquecimento.
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa, uma
só coisa coberta de nomes.
As pessoas imaginam os seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
(para quem o quiser apanhar)
Etiquetas:
Herberto Helder,
Sumula in "Ou o Poema continuo",
Tom Waits
Subscrever:
Mensagens (Atom)