Já vão aparecendo uns biólogos, uns químicos, uns físicos capazes de imaginar, inventar medicamentos, ínfimos objectos que vão dentro dos corpos limpar as artérias, ups! acabou-se o colesterol, disparar misseis sobre vírus, ou até mesmo escarafunchar nos neurónios para mudar as conexões e limpar o canal dos instintos interditos.
Não aparece é ninguém capaz de criar uma injecção que ponha termo à insipidez da carne, à distorção do carácter, que apazigúe os corpos e torne as almas mais ligeiras. Que acabe com as feridas da língua, a língua inválida, a alienada e a insone. Que ponha termo a esta inata catarse aristotélica da simulação, da dissimulação, do fingimento, da teatralidade do jogo retardado da imitação e do renascimento, da mascara e do mascarado, do falso e do falsificado. Que ponha fim e esta patologia mal-cheirosa, a estas células cancerosas que matam a cada dia que passa o organismo social.