O Senhor Impontual recebeu esta manhã, na volta do correio, um cartão de Natal manuscrito com letra de traço espesso e adornada à direita, e está agora a lê-lo encostado ao parapeito da varanda do seu local de trabalho, de onde vai observando os terraços apinhados com os seus inúmeros vasos para as plantas, pires para gatos, cordas de roupa, antenas de televisão por satélite, algumas cadeiras encostadas e uma série de chaminés já a fumegar. Os cabos eléctricos e telefónicos estendem-se por todas as direcções. No fim da rua, os automóveis param e arrancam nos semáforos a um ritmo alucinante. Na praça central do bairro de fronte, dois catraios correm numa perseguição sem tréguas atrás um do outro. O Senhor Impontual dá por si a recordar a mestria com que ele com a sua bicicleta subia três lanços de escadas e sorri ao pensar o quanto chorava a bola quando chegava aos seus pés.
Os amigos feitos na orla do tempo são diferentes dos outros. Fazem gracejos. Tiram uma história velha da algibeira, dão-lhe uma trinca e oferecem-na aos outros - como uma maçã verde. Aparecem de maneiras diferentes. Mesmo que tenham viajado milhas e milhas, aparecem sem se anunciarem e sem nenhuma explicação. E têm a certeza de que são bem-vindos.Têm a sua maneira própria de decidirem quando se devem referir a qualquer coisa séria. Sempre num momento inesperado - ao entrarem para o carro, com o banco puxado para a frente, ou quando estão a dar a última tacada numa partida de snooker. E são muito meticulosos com os sinais. Com os olhos, rabiscam a mensagem essencial.
O Senhor Impontual ao ler este cartão de Natal sentiu toda a oxitocina da elasticidade do tempo e teve vontade de se meter ao caminho, mas o Senhor Impontual está tão farto de aviões e aeroportos...
Os amigos feitos na orla do tempo são diferentes dos outros. Fazem gracejos. Tiram uma história velha da algibeira, dão-lhe uma trinca e oferecem-na aos outros - como uma maçã verde. Aparecem de maneiras diferentes. Mesmo que tenham viajado milhas e milhas, aparecem sem se anunciarem e sem nenhuma explicação. E têm a certeza de que são bem-vindos.Têm a sua maneira própria de decidirem quando se devem referir a qualquer coisa séria. Sempre num momento inesperado - ao entrarem para o carro, com o banco puxado para a frente, ou quando estão a dar a última tacada numa partida de snooker. E são muito meticulosos com os sinais. Com os olhos, rabiscam a mensagem essencial.
O Senhor Impontual ao ler este cartão de Natal sentiu toda a oxitocina da elasticidade do tempo e teve vontade de se meter ao caminho, mas o Senhor Impontual está tão farto de aviões e aeroportos...