sábado, 24 de outubro de 2020

Creme Brulée

Para lá da vidraça, o mar ao fundo, revolto. Do lado de dentro, cigarros e isqueiros sobre a mesa. Cada um pede um prato diferente para poder debicar o do outro. Ela, alta, com cabelos negros e frisados, as faces de quem gosta de rir, sobrancelhas de mulher minuciosa, que procura algum sentido para a vida, uma direcção, um significado, um gosto verdadeiro. Não o sentido único de que os fatigados, os resignados, se servem para não terem de lutar. 
Ele acende um cigarro, pousa o isqueiro, aspira uma grande baforada de tabaco, marca uma pausa, solta um sopro, dispensa o leite creme queimado, fita-a nos olhos sem desviar o olhar. Deve estar com medo. Tenta permanecer mole, doce, sem varejar com os braços e as pernas, fazendo um tremendo esforço para permanecer aberto, disponível.

3 comentários:


  1. Já eu... não dispenso! O creme brulée, claro!
    Acabei de fazer um prato dele... 😊
    (ainda está morno)

    Beijinhos com canela
    (^^)

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  2. Bela da fotografia!
    Gosto destes retratos feitos com palavras!

    Quanto ao Creme Brulée... também terei dificuldade em resistir. Mas sem canela - para mim queimado na altura!

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