Hoje sairei por aí, verei tudo e não registarei nada. Se quiser simplificar, direi apenas que hoje me faltará a memória, esquecendo assim tudo o que possa constituir a estória diária de um ser humano. Verei tudo como se o visse pela primeira vez. Todas as impressões recebidas serão uma novidade e manterão intacto todo o interesse que me possam despertar. Hoje serei uma espécie de máquina fotográfica sem rolo. Não me cansarei das impressões agradáveis e as más nunca chegarão a acumular-se de forma a desgostar-me. Por outro lado, esta espécie de alheamento relativamente a tudo também não será de todo incómoda. Distanciar-me-à daquilo que iria ocupar-me de forma mais obsessiva, e a sensação dai resultante será, inclusive, bastante agradável.
"Fotografar é colocar na mesma linha a cabeça, o olho e o coração."
__Henri Cartier-Bresson