Reparei nos casais que desciam a escadaria preparados para o jantar, os homens talhados de negro, as mulheres cobertas de folhos. Ocorreu-me que aquela era a cena em que, nos romances góticos, o corcunda rapta a sua donzela. Ali, com o candelabro, o brilho da lampada do pilar das escadas em caracol, os diamantes e a carne nua. Aquela era a hora do monstro. Depois de a ter seguido, de a ter enganado, estava agora pronto a raptá-la - sem nada para oferecer-lhe em troca, para além da sua vida envenenada, dos seus carnudos e sedentos lábios.
Não demorou mais de um segundo. Trazia um vestido branco, comprido, salpicado de bordados e renda, as mangas, meros véus que cobriam os seus braços, uma espécie de cinto prateado que descia abaixo da cintura, e uma longa cauda, caída atrás dela pelas escadas abaixo numa espiral cintilante; um vestido que se ajustava a ela como um delicado gérmen agarrado à sua pálida semente. Não usava nada em volta do pescoço, absolutamente nada, apenas a sua pele clara, ondulando como uma pequena vaga, quando engolia e olhava para baixo com a grandiosidade de uma mulher sem preocupações de juventude, sem confusões nem piscar de olhos, uma mulher de paixões, ali, naquela escadaria, com uma mão pousada no corrimão. Havia estrelas no seu cabelo...