No local onde me encontro os paquistaneses têm umas mercearias onde gravita todo o tipo de gente à procura do improvável. Os paquistaneses são gente fleumática. Não consigo entender se a sua fleuma advém da indiferença na qual foram acantonados e à qual parecem acomodar-se. Ou serão eles, muito simplesmente, gente que não procura as histórias das outras gentes, decididos que estão em não exprimir nenhuma opinião para não afastar ninguém? Fundem-se na paisagem até se tornarem um elemento dessa paisagem, apenas um pouco mais exótica do que o resto do cenário. Usam turbante, mas a sua fisionomia castanha é impassível e pacifica. Os seus modos são elegantes e lentos. A sua falta de afecto funciona nos outros como um bálsamo de relaxamento.
Azad não é visivelmente o género de pessoa para se lançar em grandes dissertações, nem para formular extensas teorias. Guarda as suas reflexões para si próprio, jamais desejaria embaraçar alguém. Aprecio este tipo de discrição, que é a verdadeira elegância. Sou tocado por esta moderação, este pudor, que são de um homem honesto. Contenta-se em perguntar-me como tomo o meu chá. Voltamos ao silêncio. O chá arrefece na minha chávena. Azad tem movimentos lentos, seguros, delicados. Não se desgasta inutilmente. Quando acabo de tomar o meu chá, pronuncia algumas palavras a propósito do tempo, da chuva, da morrinha. Conta-me que nunca se habituou ao chuviscar permanente. Que lhe falta o sol do Paquistão. Interrogo-o para saber quando deixou o seu país. Informa-me que nasceu em Londres, que nunca pisou solo da terra natal dos seus pais, que sente a falta do que não conheceu, dessa pertença que lhe foi negada, que lhe é impossível reivindicar. Diz que é um puro produto da Inglaterra. Dí-lo sem acrimónia, mas com verdadeira tristeza. Diz que é um exilado no seu próprio país.