Numa época em que todos se esforçam por parecer o que não são, o Senhor Impontual, que adquiriu o hábito de aos sábados de manhã passar os olhos pela blogosfera em geral e ler os atrasados em particular, não pode deixar de formular um pensamento, precedido de forte convicção, de que não há-de ser fácil viver incrustado na própria estupidez, flagelando-se, retocando ali e acolá a maquilhagem social que esconde as equimoses da alma, impedindo-se a si mesmo de experimentar o que sente, como que para melhor evitar a decepção de se ver apenas como ele próprio: a náusea que oculta sob um exterior animado, o riso forçado ou a fixação na preservação das suas feições de perpétuo jovem e de todo um simulacro geral de entusiasmo.
Mas pior ainda há-de ser aceitar as vertigens e os remorsos do espírito, mesmo apresentando-se no instante crucial, convenientemente, diante do abismo como se este fosse insondável - que não é.
O Senhor Impontual tencionava esta manhã fazer um corte e uma rega geral nos relvados circundantes, mas esta noite choveu. Talvez vá dar banho ao cão.