Assim que terminaram as apresentações que foram feitas pela anfitriã, acompanhadas pelo nome do convidado com uma referência à sua profissão e uma piada sobre um qualquer aspecto mais ou menos intimo da relação que os unia, soou a campainha confirmando que ainda faltavam convidados. A partir desse momento o ambiente relaxou-se. Decidi continuar de pé, a anfitriã apareceu com dois gatos e uma mulher de aspecto inca, o acolhimento que lhes dispensou não foi tão estático como o dispensado aos demais. Apresentou-os delicadamente como Miss Marble, Marlon Brando e Susana.
Entretanto, a mesa com comida tinha sido timidamente assaltada por uma avalancha de esfomeados e os que, como eu, ficaram por ali já não se consideravam obrigados a manter conversa.
Já estive em inúmeras festas deste tipo e o meu comportamento varia em função do conhecimento que tenho dos presentes. Se não conheço ninguém, como era o caso, entretenho-me a deambular, aberto à possibilidade de entabular conversa, mas com a ambição de não me prolongar. A musica soava sem que ninguém se ocupasse dela, mas entretanto o volume aumentou e tornou-se mais variada graças à intervenção de espontâneos DJs. Joaquim o ornitólogo acabou por tomar conta das operações. Baixaram-se as luzes e os mais atrevidos começaram a bombolear-se, e mais tarde a dançar.
Peguei num copo, circulei, e fui-me unindo a uns grupos pronto para empreender a fuga quando os temas das conversas escasseavam ou se exigisse de mim algo mais do que a minha presença atenta. Estive com Taeko e Yukiko, um casal magnifico, ele e ela com a mesma ciciante maneira de falar; estive com Mumu, a vaca cuja a altura é intimidante. Que delicadeza! Milú a aranha lá apareceu com a esquelética editora-chefe de uma revista de embarcações de recreio, Damas acompanhado por duas agentes da bolsa de valores falou-me da sua sociedade de investimentos. Corto Gatez apareceu já noite dentro com duas estagiárias de publicidade que disseram ser primas da anfitriã; com Joaquim o ornitólogo, pássaro afeminado, que acabei por abandonar, não porque a conversa rareasse, mas porque não parou de me atirar perdigotos de saliva para a cara; com Carlota - a osga, muito empenhada em dançar comigo e com uma amiga sua, Weblogger, vitima do mesmo empenho para com o Leitor Inventado.
Foi bonita a festa! Estive sempre de pé. Como os espinheiros do átrio grande à entrada da mansão Fleur du Mal. De pé bebe-se mais devagar.