Colocou os óculos de parte, depôs as mãos sobre o colo, abandonando aí os braços com suavidade. Coisa alguma o prende àquele lugar, não retém qualquer saudade daqueles sítios que somente conservam o cenário já de si nublado do reencontro com Almerinda.
Não é novo nem é velho: chegou à idade indefinida em que um homem vai ficar até ao fim da vida com a cara que fez por merecer e com as recordações do que recusou e aceitou: espectros cada dia mais vivos e agressões cada vez mais insolentes. Todavia, aprendera há muito tempo que para esquecer é preciso recordar. E se poucas coisas deseja recordar talvez seja porque é um homem dividido nas suas lealdades. O importante, porém, não é esquecer ou recordar, mas deixar que surja, alternadamente, uma coisa e outra. Às vezes fala com os céus. Mas os céus também já não são os mesmos - as estrelas estão separadas por espaços infinitos.