Pra que me meteria eu a ver por onde ia a vida
que dei por onde ia
e não em meu favor!
Eu perdi a vez de ser simples,
perdi a vez feliz de ignorar
perdi a sábia ignorância,
perdi a graça de não saber.
Deixei passar a vez de ir na corrente
e de ser como toda a gente
às carambolas da sorte.
Eu perdi a vez de ser analfabeto,
esse segredo para não ser doutor
e para não saber também
o que as letras sabem
do mundo e de mim.
Eu perdi a vez de ser da multidão
(esta comodidade por mim perdida);
já deixei de fazer parte,
inteiro o destino me fez
inteiro a vida me tornou.
Os meus gestos metade são meus
e metade ainda da multidão.
Eu incomodo-me a mim-próprio,
é pequeno o meu corpo para mim!
Sou pior do que eu-próprio
ou eu-próprio não caibo em mim?